
A convivência entre pessoas com pensamentos diferentes, comportamentos divergentes e hábitos completamente díspares é um desafio constante. Onde há gente, há conflitos. Em tempos de tanta intolerância como os que vivemos atualmente, as teorias da Comunicação Não Violenta, desenvolvidas nos anos 1960 pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg, têm sido cada vez mais procuradas na busca pela harmonia nas relações pessoais e profissionais.
Engana-se quem pensa que praticar a CNV seria adotar posturas ivas e dizer “sim” para tudo, para evitar conflitos. Muita gente acredita que pode preservar relações se omitir seus pensamentos, desejos e necessidades. “Alguém tem que ceder”, “prefiro ter paz do que ter razão”, “em boca fechada não entra mosquito” são algumas máximas populares que perpetuam cada vez mais comportamentos assim. Mas isso, em verdade, não pacifica qualquer tipo de relação. Pelo contrário, a cada sapo que se engole ou palavra que se deixa de expressar, pequenas insatisfações vão se somando, até que, em algum momento, a pessoa explode – muitas vezes provocando incompreensão. “Fulano pediu demissão só porque seu gestor pediu que ele realizasse uma tarefa extra!” “Beltrana se divorciou só porque o marido deixou a toalha molhada em cima da cama!” Quem nunca ouviu, disse ou pensou algo semelhante? Como diz Chico Buarque, uma coisinha de nada “pode ser a gota d’água” que vai fazer o copo transbordar.
Quando uma pessoa não expressa o que sente, não diz o que pensa, deseja ou precisa, não está sendo “não violenta”, pois está agredindo a primeira instância da comunicação, que é a intrapessoal. Está sendo violenta com ela mesma! Mas, então, como conseguir discordar sem tornar os ambientes conflituosos?
Mais uma vez, vamos a um ditado popular: “Não é o que a gente diz, mas COMO a gente diz!” É possível dizer tudo sem provocar mágoas, ressentimentos, culpa ou vergonha. Você pode discordar, questionar, esclarecer ou mesmo negar algo sem que isso seja uma agressão ao seu interlocutor.
Para isso, há técnicas e um o a o. Entre as técnicas, as mais efetivas são as perguntas e paráfrases. Quando fazemos perguntas no meio de uma conversa, demonstramos interesse no que o outro está dizendo. É a chamada escuta ativa, uma forma de comunicação que promove interação com valorização do outro. Já as paráfrases são um caminho para evitarmos mal-entendidos. A ideia é nos certificarmos do conteúdo recebido, confirmando com o interlocutor suas intenções com a fala. Por exemplo: “Deixa eu ver se entendi: você quis dizer que…”
O o a o proposto por Rosenberg para a prática da Comunicação Não Violenta é composto de quatro estágios. O primeiro, e mais difícil, é o não julgamento. Ouvir e observar sem julgar os acontecimentos, fatos ou palavras. O segundo o é reconhecer nossos próprios sentimentos em relação ao acontecido ou dito. Em seguida, reconhecer também nossas necessidades para, só então, expressar nosso pedido ou opinião. Tudo isso baseado em três grandes pilares: empatia (colocar-se no lugar do outro, entendendo suas crenças, hábitos e pontos de vista), escuta ativa e escuta empática (menos participativa, mas igualmente atenta – é quando nos colocamos ao lado de alguém dispostos a ouvir sem interferir, aconselhar ou julgar).
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