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Chega o mês de junho e até quem jurava “não querer saber de ninguém” começa a olhar pro céu e negociar com Santo Antônio. Afinal, chega uma hora em que nem os melhores filtros do Instagram disfarçam a vontade de dividir o brigadeiro de a ou ter em quem esquentar os pés nos dias gelados. O santo, coitado, vira refém dos carentes, dos esperançosos, dos que já esgotaram o estoque e a confiança nos aplicativos de relacionamentos e, principalmente, dos que ainda acreditam no poder de um “olhar cruzado na quermesse”. 

Uns viram o santo de cabeça pra baixo, outros investem em fatias de bolo que prometem sorte no amor a quem encontrar a imagem dele imersa em massa de pão-de-ló com doce de leite. São vários tipos de tentativas de “negócios espirituais”. Sempre penso que não deve ser mera coincidência o Dia de Santo Antônio ser logo após o Dia dos Namorados no calendário oficial.

Entre apostas de compatibilidade virtual e simpatias ancestrais, às vezes é o improvável que dá certo. Não custa nada acreditar num milagreiro com histórico de unir corações perdidos ou cansados de dar justificativas desnecessárias no grupo da família. Muito mais prático terceirizar a função do cupido quando o algoritmo só entrega embuste.

A real é que, em tempos de likes, ghosting e textão de amor-próprio, o verdadeiro milagre de Santo Antônio, é nos lembrar de que querer amor não é vergonha, é fé. Fé de que ainda existe gente que tope dividir travesseiro, riso frouxo e conta do delivery. Fé de que cozinhar pra dois ainda vale a bagunça na cozinha. Fé de que há, sim, quem tope encarar nossas manias esquisitas e o caos do emocional sem pedir reembolso.

Se a fé move montanhas, que mova também esses corações meio murchos, cansados de se vender como versão de si mesmos em apps que mais parecem iFood de gente. Swipe pra cá, swipe pra lá e, no fim, o objetivo é apenas encontrar alguém que tope compartilhar o sofá, o edredom e o silêncio de domingo à noite.

Entre a quermesse da paróquia do bairro, o cheiro de pipoca e a quadrilha do fim do mundo, muita gente ainda gente fecha os olhos e invoca a ajuda do intercessor da Idade Média. É o tipo de pedido que vai pros céus sem legenda motivacional, sem carão nos stories e ou trilha sonora do lo-fi. Precisa ser simples, leve, objetivo e verdadeiro.

No frigir dos ovos, ninguém quer só performar autocuidado com vela aromática e skincare diante das telas. Quer encaixe. Quer abraço. Quer aquela presença tão rara quanto bingo sem quiproquó na festa junina.

Nessa época, a demanda mais ouvida por Santo Antônio é justamente pra que, entre um arrasta-pé e outro, providencie um encontro que valha a pena desligar o wi-fi. Só amor mesmo, aquele imperfeito, cheio de graça e que dispensa filtro.

E, na real, o verdadeiro carisma de Santo Antônio nunca foi o de fazer parzinho apaixonado, nem salvar solteiros do tédio dos domingos. Era falar de compaixão, simplicidade, justiça. Coisas que, aliás, continuam tão difíceis de encontrar quanto um match decente em aplicativo. Talvez seja por isso que, no desespero, muita gente apele pro santo: porque no fundo, mais do que um flerte ou um breve romance, o que todo mundo procura é alguém que olhe com a mesma generosidade que Antônio espalhou por aí. E se vier cheiroso, com abraço e bom humor, amém.

Danielle Blaskievicz é jornalista, empresária e, mesmo casada, não perde o bolo de Santo Antônio, quitute que deveria ser considerado patrimônio gastronômico do Brasil.